
15 Mar Como mudamos?
Muitas vezes só consideramos que mudamos algo quando adquirimos um comportamento concreto, paramos de fazer alguma coisa ou alcançamos uma meta ambicionada. Claro que tudo isso faz parte do lado visível da mudança, mas a mudança em si não se resume a isso. A mudança comportamental é um processo não linear, que se percorre entre altos e baixos, avanços e recuos, diversas etapas e desafios, que implicam fazer escolhas diferentes diariamente e enfrentar resistências e desconfortos de forma consciente e comprometida.
Para o sucesso da mudança pessoal é determinante encará-la como um processo com vários patamares e compreender que se não estamos a ser bem-sucedidos nas mudanças que desejamos implementar, isso nada nos diz sobre o nosso valor e capacidade de mudar, só nos diz algo sobre o método de mudança que estamos a utilizar.
«A única falha na tua mudança é desistires da tua capacidade de mudar»
A mudança comportamental tem sido amplamente estudada e o Modelo Transteórico de Mudança, construído por James Prochaska e Carlo DiClement em 1979, apresenta uma teoria orientadora global que explica como o processo de mudança ocorre em diversas etapas. Estas etapas são consideradas flutuantes, querendo isto dizer que é possível que uma pessoa retorne a um ponto anterior e consiga transpô-la novamente. Cada estádio apresenta emoções, pensamentos e comportamentos predominantes, e as mudanças bem-sucedidas dependem assim da aplicação das estratégias certas nos momentos certos! Tomar conhecimento sobre processo de mudança permite ampliar a nossa consciência em relação à própria mudança, possibilitando assim que nos preparemos melhor.
A investigação concluiu então que existem seis etapas da mudança bem definidas, que aqui resumo muito brevemente:
Pré-Contemplação: Nesta fase não há qualquer compromisso de alterar comportamentos ou intenção de agir para mudar nos próximos seis meses. Muitas vezes ainda não existe uma consciência real dos problemas ou não existe uma verdadeira responsabilização pela situação presente. A pessoa não está preparada para mudar, o medo e a desconfiança são sentimentos comuns e a atitude é de negação e paralisação.
Ex: “Quando eu quiser eu mudo” – “Não posso fazer nada” – “Mudar? Eu?!”
Contemplação: Na fase de contemplação já existe reflexão e motivação para a mudança, há uma intenção de agir para mudar dentro dos próximos 6 meses, no entanto existe ainda uma grande ambivalência. A acção significa sair da zona de conforto e existem muitas dúvidas e um grande medo de falhar, o que leva à procrastinação e resistência. Neste estádio, a pessoa conhece o seu destino, e até sabe como lá chegar, mas ainda não está pronta para assumir um compromisso e partir.
Ex: “Eu devia mas é muito difícil, não sei se consigo…”
Preparação: Na etapa da preparação já começam a ser implementadas pequenas mudanças e há uma decisão clara de alterar escolhas diárias. Encontramo-nos a preparar-nos para agir nos próximos 30 dias, sendo fundamental definir objectivos e construir um plano de acção. Perante a angústia de não saber se vai correr bem, ter uma visão clara e foco são determinantes!
Ex: “Já estou a reunir as condições necessárias para avançar…”
Acção: Na etapa da acção há uma alteração notória do comportamento e ambiente, já começámos a fazer alterações e o comportamento desejado é praticado há menos de 6 meses. Existe um grande compromisso de tempo e esforço para alinhar as escolhas com a visão de bem-estar, apesar de todas dificuldades. Nesta etapa é natural que haja “tropeços”, por isso a priorização é essencial.
Ex: “Já estou há um mês a implementar mudanças e estou a gostar!”
Manutenção: Na etapa da manutenção existe um compromisso contínuo com o novo comportamento há mais de seis meses e a pessoa trabalha para consolidar as suas conquistas. Requer um investimento contínuo e foco na prevenção de recaídas, é a etapa da consolidação das novas rotinas criadas.
Ex: “Tenho muito orgulho em tudo o que já conquistei, continuo a fazer mas ainda me debato com as tentações.”
Conclusão: Na etapa da conclusão o novo comportamento já está totalmente integrado e é mantido sem esforço. Esta etapa é marcada pela auto-confiança, auto-eficácia e construção de uma nova identidade. Nesta fase a pessoa confia que pode enfrentar os desafios sem medo de reincidir.
Ex: “Hoje sou uma pessoa diferente!”
O conhecimento destas etapas, da sua progressão e dos processos mais úteis em cada uma delas ajuda a compreender o ciclo de mudança, ganhar perspectiva e avançar na jornada com maior probabilidade de sucesso. Determinar o estágio da mudança em que nos encontramos é o primeiro passo!